Argentina após um ano sob o comando do libertário Javier Milei
Apresentando-se como um outsider e defensor do anarco-capitalismo, o economista Javier Milei personificou a rejeição popular ao establishment político tradicional. Sua retórica inflamada e promessas de transformação radical trouxeram esperança a alguns setores, mas também geraram profundas divisões sociais e econômicas.
Javier Milei é um economista que se tornou conhecido na mídia argentina por suas posições libertárias e conservadoras. Desde que se lançou como candidato, ele chamou atenção por seu estilo excêntrico, caracterizando-se como um “outsider” do sistema político tradicional e autoproclamado anarco-capitalista. Com discursos inflamados e críticas contundentes ao establishment argentino, se consolidou como uma figura polêmica, assim como Jair Bolsonaro no Brasil durante os últimos anos da década de 2010. Durante sua campanha eleitoral, defendeu uma agenda baseada em um “estado mínimo”, além da redução drástica de impostos, privatizações em larga escala e uma economia fortemente orientada pelo mercado privado.
Em novembro de 2023, Milei foi eleito com 55,70% dos votos, contando com grande apoio da população jovem. Após um ano de governo, dados apontam melhorias em alguns setores. Porém, sua questão apresenta muitas falhas, principalmente em campos sociais.
Impactos econômicos e sociais: políticas de austeridade e exclusão
Alguns indicadores econômicos sugerem uma leve estabilização no primeiro ano do governo de Javier Milei, como a redução na inflação.
No entanto, os custos sociais de suas reformas têm sido significativos. Cortes em programas sociais e a redução do funcionalismo público por meio de demissões afetaram diretamente as populações mais vulneráveis. Além disso, o aumento dos preços dos alimentos tornou a ajuda social ainda mais difícil. ONGs que antes atendiam um grande número de pessoas agora precisam reduzir a frequência de suas ações devido ao aumento generalizado de preços. Paralelamente, o número de pessoas buscando auxílio aumentou nos últimos meses.
O setor de educação foi um dos mais gravemente impactados pelas novas políticas, sofrendo cortes em bolsas de estudo e a diminuição de investimentos em universidades públicas. Muitos jovens se viram obrigados a buscar universidades privadas, mas, diante da precária condição econômica de suas famílias, um número crescente de adolescentes e jovens adultos vem abandonando o ensino superior. Isso ameaça um dos pilares que historicamente ajudaram a Argentina a ser reconhecida como uma “nação de renda média”.
Atualmente, mais da metade da população do país vive abaixo da linha da pobreza, enquanto os preços dos alimentos dispararam, intensificando a insegurança alimentar.
Essas medidas destacam os “efeitos colaterais” das políticas de Milei: Ao menos tempo que aumentam a liberdade econômica, criado oportunidades para empreendedores e reduzido os gastos públicos, também restringem o acesso a direitos fundamentais como alimentação, educação e saúde, prejudicando aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social.
Censura: novo fantasma presente na realidade argentina
Outro elemento preocupante é o aumento da censura à mídia, dificultando a disseminação de informações críticas sobre a realidade do país. Esse controle reforça as tensões sociais, alimentando a polarização entre os apoiadores de Milei e sua oposição. A divisão social é, portanto, tanto uma consequência quanto uma estratégia de manutenção do poder, pois limita o potencial de articulação de movimentos contrários às suas políticas.
Sociedade dividida
O governo Milei pode ser interpretado como um experimento sociopolítico de desmantelamento do estado em um contexto marcado por desigualdades estruturais. Embora a aplicação de políticas neoliberais e libertárias seja atraente para certos setores, sua execução desconsidera as complexidades de uma sociedade profundamente estratificada.
A trajetória da atual gestão serve como um alerta sobre os riscos de soluções simplistas para problemas complexos. Para que a Argentina recupere um equilíbrio social e econômico, será essencial repensar as políticas que ampliam as desigualdades e comprometem os direitos básicos dos cidadãos. Afinal, um país não pode prosperar verdadeiramente enquanto mais da metade de sua população luta para sobreviver.