Bring Me The Horizon fez “esquenta” para o Allianz Parque com performance memorável na Audio

Guilherme Góes
6 min readDec 2, 2024

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Em 2011, quando ainda exibia uma sonoridade voltada ao deathcore/metalcore, a banda inglesa Bring Me The Horizon fez sua estreia na América do Sul com uma turnê que percorreu clubes de médio porte em algumas das principais metrópoles da região, como Buenos Aires, Santiago, Bogotá, São Paulo e até Caracas — essa última parada aconteceu antes de a Venezuela ser profundamente impactada por uma crise econômica que praticamente interrompeu a chegada de atrações culturais internacionais ao país.

Desde então, o grupo passou por uma transformação sonora e cresceu radicalmente, conquistando espaços em festivais, arenas e grandes casas de show. No último sábado (30), a banda alcançou o ápice de sua carreira ao realizar seu maior espetáculo até hoje: uma apresentação no Allianz Parque, com ingressos esgotados para um público de 55 mil pessoas. O evento confirmou o status do Bring Me The Horizon como um dos maiores nomes do rock de sua geração.

No entanto, antes da festa principal, a produtora 30e proporcionou aos fãs paulistanos uma experiência única, que resgatou a atmosfera intimista dos primeiros dias do conjunto. Na quinta-feira (28), dois dias antes do show no estádio, o grupo subiu ao palco da Audio, uma casa localizada na zona oeste de São Paulo, com capacidade para 3 mil pessoas. Foi, sem dúvida, uma oportunidade exclusiva e memorável para os seguidores de Oliver Sykes e companhia reviverem a essência underground do grupo.

- Devoção à flor da pele

Apesar de ter ocorrido em pleno dia útil, os fãs do conjunto inglês não pouparam esforços para marcar presença no show. Alguns dos mais dedicados chegaram ao local por volta das 7h da manhã, determinados a conquistar um lugar privilegiado perto do palco. Quando o evento se aproximava do início, as ruas ao redor do clube estavam repletas de jovens vestindo camisetas chamativas, muitas delas com referências a jogos e animes, reforçando o vínculo entre a banda e a cultura pop.

Assim que as portas da casa de espetáculos foram abertas ao público, o espaço rapidamente ficou pequeno. A lotação na pista era tão intensa que se tornou difícil se locomover. Sem nenhuma atração escalada para realizar a abertura para aquecer os presentes, coube a uma discotecagem interna a missão de manter o público animado enquanto aguardava a entrada dos “donos da noite”.

Com alguns minutos de atraso, a introdução do show começou a rodar no telão de LED, apresentando uma criativa paródia de jogos de RPG do console PlayStation 1. O vídeo simulava a “tela inicial” de um game, mas permaneceu ali por um tempo excessivo, deixando os fãs, já ansiosos, em completa euforia. Após essa expectativa inicial, a inteligência artificial E.V.E apareceu na tela para introduzir o conceito do NeXgen, a temática principal da turnê.

Pouco depois, os integrantes da banda — Oliver Sykes (vocalista), Lee Malia (guitarrista), Matt Kean (baixista), Matt Nicholls (baterista) e John Jones (guitarrista e músico de apoio para turnês) — surgiram no palco, dando início ao set com “DarkSide”, um dos principais singles do álbum POST HUMAN: NeX GEn, lançado em maio deste ano. A energia da plateia foi contagiante, com os fãs cantando alto e mostrando que estavam totalmente conectados ao novo trabalho. O bloco seguiu com uma seleção de hits, incluindo “Mantra”, “Happy Song” e “Teardrops”. No entanto, a iluminação deixou a desejar no início do show, e o uso excessivo de máquinas de fumaça comprometeu a visibilidade do palco, o que acabou prejudicando um pouco a experiência geral.

Após revisitar clássicos já consagrados, o conjunto passou por mais algumas faixas do álbum mais recente, como “AmEN!”, “Kool-Aid” e “n/A” — esta última sendo apresentada ao vivo pela primeira vez. As canções, embora fortemente influenciadas pelo pop, também resgatam elementos característicos do metalcore dos primeiros anos da banda, com riffs intensos, breakdowns enérgicos e batidas agressivas. Essa fusão criativa evidenciou a habilidade do Bring Me The Horizon em unir referências distintas e entregá-las de forma coesa.

Na reta final do show, o setlist voltou a destacar grandes sucessos. “Kingslayer” — parceria com as japonesas do Babymetal, que curiosamente haviam se apresentado na mesma Audio no mês anterior, em um show paralelo ao Knotfest — foi um dos momentos mais eletrizantes. Em seguida, “Parasite Eve” e “Antivist” incendiaram o público, com direito a Oliver Sykes chamando um fã ao palco para participar da apresentação. Neste bloco, os efeitos visuais atingiram seu auge, com lasers futuristas que poderiam facilmente rivalizar com a produção de um set do DJ Alok em um festival como Rock In Rio ou Lollapalooza.

Antes de “Follow You,” Oli fez uma declaração especial ao público, revelando seu carinho pelo Brasil: “Quando me apaixonei por uma brasileira, não imaginava que acabaria me apaixonando pelo país inteiro.” Casado com a modelo brasileira Alissa Salls, o vocalista demonstrou familiaridade com o idioma, arriscando algumas palavras em português entre as músicas, algo que sempre conquista os fãs brasileiros. Para encerrar o set regular, o grupo trouxe a emocionante “Can You Feel My Heart?”, fechando o espetáculo com chave de ouro.

Depois de um breve intervalo, os integrantes retornaram ao palco para um bis especial, composto exclusivamente por faixas do álbum That’s the Spirit (2015). O bloco começou com a introspectiva “Doomed,” seguido pela emocionante “Drown,” momento em que Oli desceu até a pista para cantar junto aos fãs, criando uma conexão única com o público. O encerramento veio em grande estilo com a épica “Throne,” onde o vocalista comandou a plateia, pedindo que todos se abaixassem e saltassem ao seu sinal. Combinado a explosões de papel picado e máquinas de fumaça, o momento foi simplesmente inesquecível, encerrando a noite com perfeição.

Seja em um estádio lotado ou em um clube intimista, o Bring Me The Horizon prova que domina a arte de fazer shows memoráveis. Oliver Sykes, em particular, demonstra um carisma inigualável e uma presença de palco magnética, cativando o público com facilidade. Sua habilidade de comandar multidões reafirma seu lugar como uma das figuras mais influentes do rock no século XXI.

Fotos @flashbang / 30ebr

Setlist
DArkSide
MANTRA
Happy Song
Teardrops
AmEN!
Kool-Aid
Shadow Moses
n/A
Sleepwalking
Kingslayer
Parasite Eve
Antivist
Follow You
LosT
Can You Feel My Heart

Bis:
Doomed
Drown
Throne

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Guilherme Góes
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Written by Guilherme Góes

Escrevo sobre o que tenho vontade, sem compromisso em tentar emular algum tipo de intelectualidade ou agradar terceiros.

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