Iron Maiden encerra a ‘Future Past Tour’ em São Paulo com repertório focado em raridades
É inegável a paixão dos headbangers brasileiros pela lendária banda inglesa Iron Maiden. Considerada um dos pilares do heavy metal, o grupo já realizou 44 apresentações em solo brasileiro desde sua estreia na histórica primeira edição do Rock in Rio, em 1985. Décadas depois, a devoção dos fãs segue inabalável, consolidando uma relação única entre o público brasileiro e a banda.
A nova turnê, intitulada ‘Future Past’, reafirma essa conexão. Com um setlist ousado, o sexteto mistura faixas de seu álbum mais recente, Senjutsu (2021), com canções do clássico Somewhere In Time (1986). O repertório deixa de fora sucessos clássicos como ‘Aces High’, ‘Run to the Hills’, ‘The Number of the Beast’ e ‘2 Minutes to Midnight’, priorizando músicas secundárias.
Para muitos artistas e bandas, tal cenário poderia ser um desafio, mas os fãs de Iron Maiden são tão comprometidos com o legado do grupo que o resultado foi o oposto: os devotos de Bruce Dickinson e companhia esgotaram os ingressos para as duas apresentações no Allianz Parque, em São Paulo, onde a turnê foi encerrada.
Representantes da Hedflow marcaram presença no primeiro show, realizado na última sexta-feira, dia 6, e testemunharam de perto o entusiasmo do público e a entrega de uma das maiores bandas da história do metal.
Experiência geral e show de abertura
Nem mesmo o calor intenso na capital paulista ou o fato de o evento ocorrer em pleno dia útil afastaram os fãs. Desde cedo, grupos de amigos ‘metaleiros’ e caravanas movimentaram os bairros da Barra Funda, transformando a região em um verdadeiro ponto de encontro. Nas ruas da zona oeste de São Paulo, dezenas de ambulantes aproveitaram a ocasião para vender capas de chuva, bandeiras, bottons, copos e canecas temáticas, criando uma atmosfera que quase simulava a experiência de um grande evento religioso.
Por volta das 14h, a avenida Francisco Matarazzo já estava tomada pelas ‘camisetas pretas’ dos fãs da ‘Donzela de Ferro’, que celebravam em clima de festa o retorno da banda após dois anos de sua última passagem pela ‘terra da garoa’. Pouco depois das 16h, os portões do Allianz Parque foram abertos ao público geral.
Aparentemente, o Iron Maiden tem demonstrado uma preferência especial por bandas escandinavas para abrir seus shows no Brasil. Durante a turnê Legacy of the Beast, em 2022, os suecos do Avatar tiveram a missão de aquecer o público. Desta vez, a responsabilidade ficou nas mãos do grupo dinamarquês Volbeat, que trouxe uma apresentação repleta de energia e carisma.
Liderada pelo carismático vocalista Michael Poulsen — que conquistou ainda mais respeito ao subir ao palco vestindo uma camiseta com a capa de Beneath the Remains, clássico do Sepultura — , a banda apresentou uma sonoridade cativante. O setlist transitou com fluidez entre heavy metal, punk e até mesmo elementos de country music.
Entre os destaques do set, vale mencionar ‘Wait a Minute My Girl’, com seu ritmo contagiante que colocou uma parcela da plateia para dançar; ‘Fallen’, uma homenagem de Michael ao pai falecido, momento em que o público emocionado iluminou o estádio com as lanternas de seus celulares; e ‘For Evigt’, recebida como um grande sucesso, com centenas de fãs arriscando cantar o refrão em dinamarquês.
Embora o show tenha pecado na decoração, limitada a jogos de luz simples, Michael compensou com uma performance energética, conquistando o público e garantindo uma abertura digna para o espetáculo principal.
Up The Irons!
Após uma breve pausa para a troca de cenário, a icônica ‘Doctor, Doctor’ do UFO começou a tocar nos alto-falantes do estádio, sinalizando que a entrada do Iron Maiden estava próxima. Quando a música terminou, uma sequência de luzes começou a atravessar os telões do palco, preparando o público para o que estava por vir. Então, as primeiras notas de ‘Caught Somewhere in Time’ ecoaram, e os fãs imediatamente começaram a cantar junto, acompanhando os riffs com entusiasmo.
Quando a banda finalmente entrou, uma impressionante arte visual, com a temática dos álbuns que marcam a turnê, tomou conta dos LEDs do cenário, enlouquecendo a plateia e criando uma introdução épica. Logo após, as linhas de baixo poderosas continuaram a evocar a energia do clássico Somewhere in Time (1986). Pela primeira vez na noite, o lendário mascote Eddie fez sua aparição no palco, trazendo uma arte que homenageava a icônica roupa do personagem do álbum Somewhere in Time, criando um momento de pura nostalgia para os fãs.
Após revisitar os clássicos da década de 1980, a banda decidiu trazer o presente à tona com duas faixas de Senjutsu. A sequência começou com ‘The Writing on the Wall’, que se destacou pela variedade de arranjos, transitando entre violões e solos de guitarra longos. Surpreendentemente, a música foi recebida com a mesma empolgação de um grande hit, como se já fosse um clássico. Em seguida, ‘Days of Future Past’ trouxe um riff pesado, completamente voltado para o metal, embora fosse possível perceber que Bruce Dickinson estava forçando um pouco sua voz, demonstrando um leve cansaço. No entanto, em ‘The Time Machine’, Bruce mostrou uma performance impecável, mostrando toda sua energia.
Após celebrar Senjutsu e Somewhere in Time, o sexteto mandou ‘The Prisoner’, um dos maiores sucessos de The Number of the Beast. Mas, rapidamente, o setlist retornou ao álbum mais recente com ‘Death of the Celts’. Antes de começar a música, Bruce fez uma verdadeira aula de história, explicando que a composição aborda as várias tentativas ao longo dos séculos para exterminar o povo irlandês.
Na reta final, a banda apresentou uma seleção de faixas grandiosas, começando com ‘Can I Play With Madness?’, cujo refrão animado levou o estádio a cantar em uníssono. Em seguida, ‘Heaven Can Wait’ trouxe uma breve batalha de Bruce com canhões de fogos de artifício, antes de passar por “Alexander The Great” e a emblemática ‘Fear of the Dark’. O clímax foi atingido com ‘Iron Maiden’, que contou com a impressionante aparição do mascote Eddie em tamanho gigantesco ao fundo, um momento já tradicional nas apresentações do grupo.
Após alguns segundos de pausa, o Iron Maiden retornou ao palco para a clássica ‘The Trooper’, com mais uma batalha épica entre Bruce e o monstro Eddie, antes de encerrar com a energia de ‘Wasted Years’. Aqui, o cenário foi adornado por uma belíssima arte que mostrava diferentes fases do mascote da banda, criando uma despedida visualmente impactante e inesquecível.
Mesmo com um repertório focado em faixas menos conhecidas, o Iron Maiden continua a atrair multidões e impressionar com sua energia inabalável, conseguindo arrancar emoções genuínas de seus fiéis seguidores. A ‘Donzela de Ferro’ segue sendo uma lenda viva no universo do heavy metal, e certamente manterá um lugar especial e eterno no coração dos headbangers brasileiros.
Fotos: Stephan Solon / Move Concerts Brasil
Setlists
Volbeat
The Devil’s Bleeding Crown
Lola Montez
Sad Man’s Tongue
A Warrior’s Call
Black Rose
Wait a Minute My Girl
Shotgun Blues
Fallen
Seal the Deal
The Devil Rages On
For Evigt
Still Counting
Iron Maiden
Caught Somewhere in Time
Stranger in a Strange Land
The Writing on the Wall
Days of Future Past
The Time Machine
The Prisoner
Death of the Celts
Can I Play With Madness
Heaven Can Wait
Alexander the Great
Fear of the Dark
Iron Maiden
Bis:
Hell on Earth
The Trooper
Wasted Years