Madball celebra 30 Anos de ‘Set It Off’ com show explosivo em São Paulo
Sem dúvidas, 2024 foi um ano marcante para a cena hardcore paulistana. Ao longo dos últimos 12 meses, a cidade recebeu importantes nomes do estilo, consolidando uma agenda que despertaria inveja em muitas capitais da Europa e da América do Norte.
Para encerrar o ano com chave de ouro, na última segunda-feira (09), a produtora Venus Concerts trouxe o lendário grupo Madball para o Espaço Usine, voltando ao país após 7 anos. A banda apresentou um setlist especial em celebração aos 30 anos de Set It Off, seu álbum mais aclamado. A turnê também contou com datas na Argentina, Chile, Colômbia e Equador.
Espaço Usine: novo clube para o underground
Este foi o primeiro evento de hardcore realizado no Espaço Usine, anteriormente conhecido como Clash Club, uma das casas mais queridas pelo público independente paulistano durante a década de 2010. No passado, o local recebeu shows memoráveis de grandes nomes da música underground. Encerrado em 2017, o espaço agora retorna com um novo nome e proposta.
O local se destaca por seus corredores amplos, bares bem distribuídos, fumódromo e uma decoração rústica, marcada por tijolos expostos, iluminação baixa e um palco estrategicamente centralizado, garantindo boa visualização de qualquer ponto da casa. No entanto, uma das características mais icônicas do antigo Clash Club — os telões de LED em formato hexagonal — não faz mais parte do ambiente.
Ainda assim, o Espaço Usine surge como uma excelente alternativa para eventos em São Paulo, especialmente quando a Fabrique, outra casa de espetáculos situada na mesma rua, estiver indisponível. A partir de 2025, a promessa é que o Usine se torne um dos grandes protagonistas da cena musical paulistana!
Shows
A celebração hardcore começou com a apresentação do Abulia, grupo de São José dos Campos que carrega a bandeira da música extrema do interior paulista. Curiosamente, a banda foi incluída no line-up apenas no dia do evento. Apesar de ainda pouco conhecida pelo público paulistano, o conjunto está na ativa desde 2006.
Com a casa ainda começando a encher, os integrantes do Abulia apresentaram uma sonoridade que vai além do hardcore, incorporando elementos de grindcore, punk e os breakdowns característicos do metal moderno. Mesmo em menor número, alguns fãs marcaram presença, vestindo camisetas estampadas com a frase “Vaso Ruim” — uma espécie de símbolo da banda — e cantando junto músicas como “SJC HC”, “Antifa”, “Vaso Ruim”, “Mente a Milhão” e “Malditos”.
Na sequência, foi a vez do Paura, um dos nomes mais tradicionais da cena hardcore paulistana. O set começou com o vocalista Fábio criticando os recentes abusos cometidos pela polícia militar de São Paulo nas últimas semanas, introduzindo “Karmic Punishment”, faixa-título do último álbum do grupo, lançado em 2023. A apresentação seguiu com uma combinação energética de músicas novas e clássicos, como “Urban Decay”, “N.W.A (Never Walk Alone)”, “The Privilege” e “The City Is Ours” — um repertório semelhante ao que a banda apresentou em setembro, quando abriu o show do Gorilla Biscuits.
Os fãs responderam com entusiasmo, formando mosh pits intensos de parede a parede, demonstrando uma admiração digna de atração principal. Próximo ao final do show, Fábio compartilhou as dificuldades enfrentadas pela banda durante a turnê, incluindo problemas com a polícia no Chile e mais de 36 horas sem dormir ou se alimentar adequadamente. Apesar das adversidades, o Paura entregou uma performance única, reafirmando sua força na cena e conquistando ainda mais respeito de seus seguidores fiéis.
Após um breve atraso e com um bom público na casa (algo impressionante para uma segunda-feira), Freddy Cricien (vocal), Mike Justain (bateria), Mike Gurnari (guitarra) e Brendan Porray (baixo) subiram ao palco e abriram a apresentação com “Set It Off”, faixa-título do icônico álbum de 1994. Para surpresa dos fãs que não acompanharam os setlists dos shows anteriores da turnê, o repertório não seguiu a ordem completa do disco. Em vez disso, “Smell The Bacon”, do EP Ball Of Destruction, veio logo na sequência. Retornando ao primeiro álbum, a banda emendou faixas como “Lockdown”, “Never Had It”, “It’s Time”, “C.T.Y.C. (R.I.P.)”, “Across Your Face” e “Face to Face”, incendiando a pista com stage dives e mosh pits intensos e violentos. No meio da “harmoniosa confusão”, era possível reconhecer figuras conhecidas do hardcore nacional, como os vocalistas Thiago Monstrinho (Worst) e Milton Aguiar (Bayside Kings).
O frontman Freddy Cricien foi um espetáculo à parte, demonstrando carisma de sobra. Entre as músicas, arriscou algumas palavras em “portunhol”, agradecendo ao público por comparecer em plena segunda-feira, reforçando sua conexão com São Paulo, que ele considera sua segunda casa. Freddy também lembrou com entusiasmo a primeira apresentação do Madball na cidade, em 1997, e celebrou o apoio incondicional dos fãs ao longo de quase três décadas. Sua receptividade foi notável, especialmente com os fãs mais empolgados que invadiam o palco para pegar o microfone — mesmo quando alguns ultrapassavam os limites do bom senso. Em certo momento, o vocalista entregou o microfone a uma fã argentina presente na pista, que assumiu os vocais em uma das músicas.
De volta ao álbum Set It Off, o grupo encerrou o bloco dedicado ao clássico com “Get Out” e ainda apresentou “New York City” e “Down By Law” — faixas que chegaram a ter destaque em canais mainstream voltados ao rock e heavy metal nos anos 1990. Na reta final, o Madball entregou um bloco diversificado, revisitando diferentes momentos da carreira com músicas como “Doc Marten Stomp”, “Nuestra Familia”, “Pride (Times Are Changing)” e “100%”. Esta última, com trechos em espanhol, reforçou a conexão de Freddy com a cultura latina.
Nesta nova passagem por São Paulo, o Madball mostrou que continua com uma energia única, mantendo o público em alta voltagem do início ao fim. Freddy Cricien não apenas impressiona por sua vitalidade e controle absoluto do palco, mas também por seu carisma e proximidade com os fãs. Estes, por sua vez, corresponderam à altura, agitando no mosh como se não fosse segunda-feira e não houvesse trabalho no dia seguinte. Eventos como este confirmam: em São Paulo, o hardcore vive!
Setlists
Abulia
SJC HC
Antifa
Vaso Ruim
Morte Lenta
Te Deito no Soco
Mente a Milhão
Malditos
Paura
Karmic Pubishment
Urban Decay
Reverse the Flow
Truth Hits Hard
No Hard Feelings? Fuck You!
The City is Ours
Level of Maturity
Sailing On
N.W.A (Never Walk Alone)
The Privilege
History Bleeds
Madball (setlist parcial)
Set It Off
Smell the Bacon
Lockdown
Never Had It
It’s Time
C.T.Y.C. (R.I.P.)
Across Your Face
Can’t Stop, Won’t Stop
For My Enemies
Look My Way
Down by Law
Spit on Your Grave
Heavenhell
Doc Marten Stomp
Rev Up
It’s My Life (The Animals cover)
Born Strong
100%