Montana: um exemplo gritante da desigualdade habitacional nos Estados Unidos
O estado de Montana, localizado no noroeste dos Estados Unidos, é conhecido por sua natureza exuberante e por abrigar alguns dos pontos turísticos mais encantadores da América do Norte. No entanto, sob as paisagens pitorescas das montanhas que marcam o local e o charme bucólico de suas pequenas cidades, existe uma realidade que exibe profundas desigualdades socioeconômicas.
Montana como uma potência industrial
A história de Montana está profundamente ligada à exploração de seus recursos naturais. A cidade de Butte, outrora conhecida como a “Colina Mais Rica da Terra”, simbolizava o auge do poder industrial do estado.
No início do século XX, suas minas de cobre atendiam a uma parcela significativa da demanda global. Contudo, essa riqueza estava longe de ser distribuída de forma justa. Os chamados “reis do cobre”, uma oligarquia de magnatas da mineração, acumulavam fortunas impressionantes enquanto a classe trabalhadora enfrentava salários baixos e condições de trabalho extremamente perigosas — inclusive, foi neste cenário que aconteceu um dos piores desastres trabalhistas da história dos Estados Unidos: o “desastre da mina Granite Mountain/Speculator”, ocorrido em 1917, que tirou a vida de 163 mineiros e expôs as graves desigualdades e negligências do setor.
O movimento trabalhista em Butte foi uma resposta fervorosa a essa exploração, com greves e protestos marcando a cidade como um marco na luta pelos direitos dos trabalhadores. O município sediou algumas das maiores manifestações do movimento sindicalista americano, entre eles, o famoso “Tumulto de 1914”.
No entanto, com o declínio da indústria do cobre em meados do século XX, também diminuiu a estabilidade econômica que ela proporcionava. As minas fecharam, e Montana entrou em um período de transição econômica que redefiniria seu panorama social.
Era do turismo
Desde a segunda metade do século XX, Montana vem se reinventando como um paraíso para o turismo e a recreação ao ar livre. Parques nacionais como o Glacier e o Yellowstone atraem visitantes de todo o mundo, mas o influxo de capital trouxe consequências não intencionais.
Atualmente, o estado tornou-se um playground para os ultra-ricos, com empreendimentos representando uma nova forma de luxo exclusivo.
Um exemplo claro desta alteração é o Yellowstone Club, localizado em Big Sky. Essa comunidade privada, onde propriedades podem custar mais de 25 milhões de dólares e que tem como alguns de seus moradores figuras como o empresário Bill Gates e o cantor Justin Timberlake, oferece comodidades incomparáveis a seus residentes da elite. Esses enclaves contrastam fortemente com as realidades vividas pela população trabalhadora de Montana, muitos dos quais lutam para arcar com necessidades básicas.
A crise habitacional e outras implicações
Em nenhum lugar a desigualdade de Montana é mais evidente do que em seu mercado imobiliário. Cidades como Bozeman, outrora modestas cidades universitárias, experimentaram uma explosão nos custos de habitação. O aluguel médio em Bozeman agora supera US$ 2.500 por mês, e o preço médio de uma casa disparou para US$ 815.000 — valores insustentáveis para a maioria dos moradores locais.
Essa crise habitacional não é apenas um reflexo de oferta e demanda, mas um sintoma de desigualdades estruturais mais amplas. O afluxo de trabalhadores remotos e aposentados abastados aumentou os valores das propriedades, enquanto os salários permaneceram estagnados. Muitos locais, mesmo aqueles empregados em tempo integral ou com múltiplos empregos, se veem excluídos do mercado. Para alguns, a única alternativa é viver em seus carros ou buscar moradia distante dos locais de trabalho, perpetuando ciclos de tensão econômica e deslocamento social.
A história de Montana não é única, mas sim indicativa de tendências mais amplas nos Estados Unidos. A interação entre o declínio industrial histórico, a ascensão de uma economia baseada em serviços e a concentração de riqueza nas mãos de poucos vem criando um cenário de desigualdade acentuada que só tende a piorar.