Não foque todas as suas esperanças na carreira pública
O funcionalismo estatal oferece diversos benefícios atraentes, entre eles: salário acima da média em comparação com o setor privado, estabilidade e baixa cobrança por produtividade. No entanto, a dedicação total aos processos seletivos para cargos públicos pode causar enormes atrasos na vida profissional:
Conquistar um cargo em algum órgão estatal faz parte do “sonho brasileiro”. Devido a estabilidade, remuneração acima da média em comparação ao setor privado, reajuste anual superior à inflação, baixa cobrança ou pressão acerca de produtividade e ausência de metas de venda, planos de carreira elaborados e carga horária bem definida, muitas pessoas observam a carreira pública como uma boa alternativa para suas vidas profissionais. Além disso, a recessão econômica que assola o nosso país há quase uma década tornou o ingresso no funcionalismo público como um dos únicos meios possíveis de alcançar algum tipo de mobilidade social no Brasil.
No entanto, apesar de todos os benefícios, é necessário observar que também existem diversas desvantagens em seguir tal caminho. Igualmente, o esforço exigido para obter a aprovação em algum processo seletivo pode causar grandes atrasos na vida pessoal e profissional de um candidato à carreira pública.
Carreira pública: quais desvantagens e desafios devem ser considerados?
Entre os pontos negativos que devem ser levados em conta antes de focar integralmente em concursos públicos, estão:
Alta concorrência
Devido à crise financeira, alta taxa de desemprego e de graduados em situação de informalidade ou subutilização, a concorrência em concursos públicos aumentou drasticamente nos últimos anos. Atualmente, diversos profissionais com MBA, pós graduação, mestrado e doutorado estão competindo por vagas que exigem apenas o ensino médio ou somente educação fundamental.
Sendo assim, o “concurseiro” médio sempre deve ter em mente que estará concorrendo com candidatos que possuem formação elevada, e que não deve subestimar conteúdos elementares. Segundo levantamento publicado pela revista Istoé, cerca de 12 milhões de pessoas estão se preparando para concursos públicos no Brasil.
Notas de corte cada vez mais elevadas
Como resultado direto da enorme concorrência, cada vez mais é necessário obter uma ótima pontuação em testes. Atualmente, é quase obrigatório gabaritar uma prova de processo seletivo para possuir alguma chance real de entrar no número de vagas — até mesmo em concursos para cargos que requerem menor escolaridade. Além disso, provas que exigem redação demandam grandes habilidades em escrita e domínio adequado da gramática.
Hoje em dia, muitos concursos públicos possuem uma nota de corte superior a vestibulares para o curso de medicina em algumas das instituições de ensino mais renomadas do país. Consequentemente, tal exigência e a pequena margem para erros tornam o ingresso na carreira pública em uma tarefa extremamente desafiadora.
Alta demanda de estudo para matérias que não possuem utilidade no mercado de trabalho
Infelizmente, grande parte das matérias que são exigidas em concursos públicos não possuem utilidade prática no mercado de trabalho, fazendo com que o candidato deixe de desenvolver competências e habilidades extremamente necessárias para sua vida profissional.
Sendo assim, ao invés de se especializar em conteúdos que podem ser úteis para sua atual área de formação — e, consequentemente, ter maior retorno financeiro ou conquistar uma promoção na carreira -, desenvolver habilidades com idiomas estrangeiros ou procurar meios de obter fontes de renda alternativas, o aspirante médio ao funcionalismo público pode passar anos decorando temas e tópicos praticamente irrelevantes para a economia tradicional.
Rotina de trabalho em funções burocrática
Boa parte das atividades exercidas por profissionais que atuam no setor público são completamente burocráticas. Geralmente, os funcionários da máquina estatal apenas dedicam sua mão de obra em tarefas de manutenção de trâmites governamentais, possuem uma rotina de serviço extremamente maçante que não demanda inovação ou criatividade, já que o setor estatal não sobrevive da geração de valor ou produtividade, mas sim da arrecadação de taxas dos contribuintes.
Logo, profissionais capacitados que poderiam ajudar no aprimoramento do setor produtivo com boas resoluções, apresentando gestões de qualidade ou inovações desperdiçam talento e energia em trabalhos burocráticos que não geram reformas significativas para a sociedade.
Menor incentivo ao controle financeira e meios alternativos de previdência devido a falsa sensação de “estabilidade e direitos garantidos”
Diversos estudos afirmam que servidores possuem uma vida financeira muito mais “bagunçada” em comparação com os profissionais que atuam no setor privado — e isso tem relação direta com a suposta “estabilidade” do funcionalismo público. Segundo uma pesquisa apresentada no site Correio Braziliense, funcionários públicos devem quase 10 vezes mais do que os trabalhadores do setor privado, e possuem tendência quase 7 vezes maior em contratar empréstimos com instituições financeiras. Igualmente, a mentalidade de “direitos garantidos” faz com que muitos funcionários não procurem meios alternativos de poupança ou investimentos, e geralmente descartam a possibilidade de contratar planos privados de aposentadoria.
A carreira pública deve ser encarada apenas como uma alternativa
Obviamente, o funcionalismo público oferece grandes vantagens. No entanto, o esforço necessário para alcançar a aprovação em um processo seletivo pode gerar grandes atrasos na vida de um aspirante ao ingresso na máquina estatal. Sendo assim, a carreira pública deve ser encarada apenas como uma alternativa, mas não como “salvação profissional”.