O mito da produtividade no aumento salarial

Guilherme Góes
2 min readNov 10, 2024

--

Foto — Christopher Burns

Economistas, em especial, aqueles seguidores da ideologia liberal, defendem e divulgam de forma ferrenha a ideia de que o aumento da produtividade do trabalhador naturalmente resulta em melhores salários. Ao assistir algum vídeo ou ler um blog de produtor de conteúdo que nutre simpatias pelo neoliberalismo, é comum encontrar argumentos afirmando que os trabalhadores de países desenvolvidos como Estados Unidos, Alemanha e Japão ganham mais e possuem maior poder de compra do que os seus pares em nações em desenvolvimento como Brasil, Índia, Argentina e tantos outras mesmo exercendo a mesma função porque são “mais produtivos”.

No entanto, dados recentes mostram uma desconexão entre essas duas métricas, inclusive nos Estados Unidos e na Alemanha — nações admiradas por seguidores da ideologia liberal e vistas como “cases de sucesso” do livre mercado. De acordo com uma recente pesquisa feita pelo Economic Policy Institute, desde 1979, a produtividade do trabalhador médio americano cresceu 80,9%. No entanto, os salários reais aumentaram apenas 29,4%. Já na Alemanha, maior economia do continente europeu, a situação é relativamente a mesma: na última década, enquanto a taxa de produtividade dos trabalhadores cresceu 19,7%, os salários aumentaram apenas 5,3%. Esses números mostram que nem sempre um fato anda associado com outro.

Infelizmente, o aumento da produtividade, por si só, não garante ganhos reais para o cidadão médio. Para que melhorias efetivas sejam alcançadas, é necessário adotar uma abordagem que combine elementos de diferentes perspectivas econômicas e políticas. Medidas como o fortalecimento das associações sindicais são essenciais, pois, sem uma força coletiva robusta, o poder de barganha dos trabalhadores é drasticamente reduzido. Além disso, ações que reduzam a carga tributária e que fortaleçam o poder da moeda nacional, preservando a capacidade de consumo, e iniciativas públicas que promovam aumentos reais nos salários são igualmente indispensáveis.

Portanto, a justificativa de que os salários baixos em países como o Brasil são explicados unicamente pela baixa produtividade não se sustenta. Essa narrativa simplista ignora os fatores estruturais que perpetuam a desigualdade e a estagnação salarial, mostrando-se como uma grande falácia.

— — — — — -

https://www.cnbc.com/2024/10/04/middle-class-wages-policy-suppressing-growth.html

--

--

Guilherme Góes
Guilherme Góes

Written by Guilherme Góes

Escrevo sobre o que tenho vontade, sem compromisso em tentar emular algum tipo de intelectualidade ou agradar terceiros.

No responses yet