Resenha: Haruki Murakami — Underground- o atentando de Tóquio e a mentalidade japonesa
“Underground — o atentado de Tóquio e a Mentalidade Japonesa” é um livro documentário sobre os atos terroristas com gás sarin idealizado pela seita apocalíptica Aum Shinrikyo que ocorreram em diversas estações na linha de metrô da cidade de Tóquio em meados da década de 1990, resultando em 13 mortes e centenas de passageiros feridos. Marcando a estreia do famoso romancista Haruki Murakami no formato jornalístico, a obra narra diversos detalhes da preparação do violento atentado, características e ensinamentos do pequeno grupo religioso, o desenrolar do julgamento dos terroristas atuantes nos crimes e depoimentos das vítimas que foram afetadas de forma direta e indireta pelas atitudes inconscientes de indivíduos influenciados por uma ideologia radical. De forma madura e livre de conceitos enviesados, o autor também incluiu no trabalho depoimentos de simpatizantes e membros medianos do culto, ampliando a visão e o debate sobre o caso.
Particularmente, gostei de como Murakami destaca certos detalhes pessoais e profissionais dos terroristas. Todos os responsáveis pelo atentado com gás sarin possuíam alta formação acadêmica em instituições japonesas de renome — inclusive em áreas específicas como neurocirurgia e engenharia física. No entanto, mesmo embora algumas dessas pessoas pertenciam a elite intelectual daquele pais, ainda assim foram ludibriadas pelos ensinamentos de uma seita com crenças irracionais e se envolveram em atitudes danosas, deixando claro que a grande maioria dos seres humanos sempre estará a procura de um sentido metafisico e poderá cometer erros graves e ser enganado — independentemente de classe financeira ou nível educacional.
“Underground — o atentando de Tóquio e a mentalidade japonesa” é uma grande obra jornalística rica em detalhes e que aborda de forma inteligente fragilidades da mente humana e da sociedade.